quarta-feira, 28 de agosto de 2024

La Ninã no Atlântico?

Segundo dados da Agência Americana para os Oceanos e o Clima (National Oceanic and Atmospheric Administration - NOAA), poderá haver um evento inusitado este ano: uma dupla La Ninã, no Pacífico e no Atlântico ao mesmo tempo.

O La Niña é um fenômeno natural que diferente do El Niño, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Equatorial. O termo La Niña quer dizer "A Menina"  em espanhol o que geralmente está associado a mais chuvas nas regiões Norte e Nordeste brasileiro e chuvas abaixo da média nas regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil.
Geralmente, La Ninã se forma no Pacífico no mês de agosto, mas este ano deve aparecer somente entre setembro e novembro, entre a primavera e o verão.
Registros mostram que a temperatura da superfície do mar no Atlântico Equatorial Central tem estado 0,5ºC a 1ºC abaixo da média para esta época do ano. Caso, tais temperaturas persistirem até o final deste mês, pode-se dizer que teremos La Niña  no Atlântico e no Pacífico.
Reflexos desta mudança inusitada poderá trazer mudanças sazonais na estação chuvosa do Nordeste do Brasil, aumentar a probabilidade de furacões no Atlântico Norte, aumentar significativamente chuvas no Golfo da Guiné na África. Eis por que devemos prestar atenção nas mudanças climáticas.

Referências:
https://www.climate.gov/news-features/event-tracker/atlantic-nina-verge-developing-heres-why-we-should-pay-attention

https://umsoplaneta.globo.com/google/amp/clima/noticia/2024/08/22/oceano-resfria-e-acende-alerta-para-la-nina-atlantica-que-pode-intensificar-seca-na-amazonia.ghtml

https://ndmais.com.br/tempo/la-nina-causa-efeitos-sem-precedentes-no-atlantico-e-intriga-cientistas/





segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dia Mundial da Terra - 22 de abril - Planeta vs. Plásticos

 No dia 22 de abril é celebrado o Dia Mundial da Terra, Earth Day 2024: Planet vs. Plastics.  Neste 54º ano(desde 1970) Dia da Terra, o tema central é a poluição plástica e como ela ameaça a vida na Terra. A campanha visa diminuir em até 60% o uso de plásticos até 2040. Dentre os principais objetivos desta campanha está:

  • Conscientização ampla da população mundial dos impactos da poluição plástica com a promoção da literacia ambiental
  • Eliminação progressiva dos plásticos descartáveis;
  • Acabar com o uso de plásticos em prol da saúde humana e planetária;
  • Apoiar  inovação em alternativa aos plásticos convencionais.


    O uso de plástico na sociedade contemporânea é quase onipresente. Basta imaginar você entrando em um supermercado para fazer suas compras mensais habituais e poderá perceber que a maioria dos itens vem embalados em plásticos ou são colocados em sacolas plásticas. Agora mude este exercício mental para a compra de um eletrônico, por exemplo, certamente esse eletrônico virá embalado em material plástico. Isso acontece também com outros artigos de consumo como roupas e medicamentos. Sempre teremos um plástico acompanhando nossas compras, por sua versatilidade, durabilidade e principalmente pelo baixo custo na sua produção. Todavia, esse uso exagerado de materiais plásticos traz implicações ambientais, sociais e econômicas. 
    Temos ilhas de plásticos nos oceanos, micro plásticos são ingeridos por organismos aquáticos, podendo acumular-se em seus tecidos ao longo dos tempos e sendo transferidos nas cadeias alimentares para níveis tróficos mais elevados chegando até os seres humanos, onde podem causar inflamações intestinais, danos aos órgãos e potencial transferência de material tóxicos com risco para saúde humana e para os ecossistemas.
    A questão do uso de plásticos pela sociedade é complexa e multifacetada, mas é necessário uma abordagem sobre a sustentabilidade do planeta e os impactos negativos do uso de plástico para buscar soluções viáveis.
    O descarte inadequado dos plásticos tem causado uma crise global de poluição ambiental. Nem mesmo a economia circular, pela reciclagem, tem sido feita de forma eficiente, o que levanta preocupações sobre o futuro do nosso planeta. 
    Para lidar com estes desafios, muitas iniciativas estão surgindo no mundo atual, sendo necessário a redução da produção e a conscientização do consumo. Promover a literacia ambiental pode ser o início de uma "desplastificação" planetária.

O que significa promover a literacia ambiental?

Significa incentivar e capacitar pessoas a compreenderem e se envolverem ativamente nas questões ambientais, fornecendo conhecimento e habilidades para entender a interconexão dos sistemas naturais e encorajando atitudes e comportamentos que levem a ações em prol da preservação do ambiente. 
Construir uma sociedade mais consciente  e responsável em relação a preservação dos recursos naturais visando a sustentabilidade do planeta para as futuras gerações.

Existem várias ações que indivíduos, comunidades, empresas e governos podem tomar para reduzir o uso de plásticos e combater a poluição plástica. Aqui estão algumas delas:
  • Optar por produtos reutilizáveis no lugar de descartáveis;
  • Fazer a separação do lixo para que a reciclagem de plásticos seja adequada, diminuindo a quantidade de material plástico que acabam indevidamente em lixões e aterros;
  • Participar de campanhas de limpezas de praias, rios, parques e áreas públicas para remover plásticos de outros materiais do ambiente;
  • Cuidar do "seu quadrado". Se cada indivíduo cuidar do seu espaço, teremos um todo mais preservado.
  • Incentivar as industrias a adotar práticas sustentáveis (ESG);
  • Reduzir o consumo de produtos embalados com plásticos;
  • Trocar utensílios domésticos com o consumo consciente de embalagens;
  • Dar preferencia a cozinhar refeições a base de plantas.
    Escolha uma alimentação vibrante: do campo para o prato, deixe de lado o enlatado e o embalado e abrace o frescor e a vitalidade de tudo o que é plantado!


quarta-feira, 20 de março de 2024

A Água nos Une, o Clima nos Move

O tema proposto pela Agência Nacional de Saneamento Básico (ANA),  na Jornada da Água 2024 em 31 de Janeiro, para o Dia Mundial da Água (22 de março) e o restante do ano, destaca a interconexão entre  recursos hídricos e mudanças climáticas: A Água nos Une, o Clima nos Move. É essencial entender o significado por trás dessa afirmação e como ela impacta nossa vida diária e o futuro da humanidade.



1. Importância da água e do clima

  • Água: A água é um recurso vital para todas as formas de vida na Terra, sem água não existe vida! É ela que sustenta os ecossistemas, promove a saúde humana e impulsiona a produção de alimento e energia.
  • Clima: O clima determina padrões de temperatura, precipitação e outros elementos atmosféricos que afetam diariamente a vida no planeta. Mudanças climáticas podem resultar em efeitos extremos, como secas, enchentes, tempestades, impactando negativamente comunidades, economias e ecossistemas.

2. Interconexão entre água e clima:

  • Mudanças Climáticas influenciam a disponibilidade, qualidade e distribuição da água. Por exemplo, o derretimento das calotas polares e geleiras afeta o nível dos oceanos e a disponibilidade de água doce. Em 2023 observamos secas na Amazônia, fortes tempestades no Sul do Brasil e uma maior incidência de altas temperaturas no planeta. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023 foi o ano da série histórica mais quente no Brasil.
  • Por sua vez, o uso da água, especialmente na agricultura e na produção de energia, pode influenciar as mudanças climáticas. O desmatamento, por exemplo, reduz a capacidade dos ecossistemas de absorver carbono, provocando uma mudança violenta nos índices pluviométricos e na distribuição de chuva. O aumento da temperatura e a diminuição das chuvas podem provocar secas severas e influenciar na sazonalidade sobre as plantas, animais e seres humanos.  

3. Consequências das mudanças climáticas e da gestão inadequada da água:

  • Escassez hídrica: Mudanças climáticas podem agravar a escassez de água em regiões já vulneráveis, levando ao estresse hídrico e  levando a conflitos por recursos.
  • Risco à saúde: A qualidade da água, a poluição, a falta de investimento e a degradação dos mananciais pode resultar no aumento do risco de doenças. No Brasil, proliferação de vetores, como o mosquito Aedes aegypti e, em consequência, o aumento das arboviroses como a dengue e a zica e chicungunya. Também podemos ter a expansão da malária e da leishmaniose. É necessário uma mudança de gestão estratégica para tomadas de decisões eficazes neste sentido. Governança com responsabilidade social e ambiental.  
  • Impactos econômicos: Eventos climáticos extremos, como os observados nos últimos anos, podem levar a secas prolongadas ou enchentes, devastar a agricultura, causar perdas econômicas significativas e elevar o custo de vida da sociedade. 

4. A importância da ação coletiva:

  • Reconhecer a interconexão entre água e clima para desenvolver estratégias eficazes de adaptação e mitigação. É preciso um olhar sistêmico para as condições sociais, econômicas e ambientais para tomada de decisões assertivas tanto governamentais quanto pela própria população.
  • A cooperação entre todos os entes envolvidos nos diferentes setores são essenciais para enfrentar os desafios relacionados à agua e ao clima.
  • Investimento em infraestrutura, práticas agrícolas sustentáveis e política de gestão integrada de recursos hídricos são fundamentais para garantir a segurança hídrica e mitigar os riscos em relação as mudanças climáticas no país. 

5. Educação e sensibilização:

  • A educação é um fator determinante para a sensibilização ambiental. Somos parte de um todo, porém esse TODO é maior do que a soma das partes. É urgente incentivar práticas sustentáveis de consumo e conservação sincronicamente.
  • Aumentar a conscientização é uma ação coletiva para enfrentar desafios complexos. Promover ações coletivas e individuais visando o desenvolvimento de hábitos e atitudes sustentáveis para as gerações presentes e futuras reconhecendo a interdependência entre recursos hídricos e mudanças climáticas: "A água nos Une, o clima nos Move." 

6. Sugestões de atividades para trabalhar o tema em sala de aula, dentro de uma abordagem interdisciplinar:

  • Debate sobre políticas de gestão de recursos hídricos e mudanças climáticas: Divida a classe em grupos e peça para que cada grupo pesquise e apresente diferente políticas governamentais ou iniciativas de gestão de recursos hídricos e adaptação às mudanças climáticas em diferentes partes do mundo. Após as apresentações, promova um debate em sala de aula sobre as abordagens mais eficazes e os desafios enfrentados na implementação dessas políticas.
  • Simulação de cenários climáticos e seus impactos na disponibilidade de água: Utilize ferramentas online ou softwares de simulação para criar cenários climáticos que representem diferentes níveis de mudanças climáticas, como aumento da temperatura, alterações nos padrões de precipitações, etc. Alguns documentários, reportagens, gráficos e  filmes podem ser usados para ampliar a percepção dos alunos em relação as mudanças climáticas. Peça aos alunos que analisem e discutam como essas mudanças afetariam a disponibilidade de água em diferentes regiões e quais seriam os impactos socioeconômicos e ambientais resultantes.
  • Explore os recursos hídricos nas redondezas: Aulas de campo são excelentes para identificar e propor mudanças de hábitos que não são sustentáveis. Visite estações de tratamento de água, manguezais, praias, lagos e lagoas e analise os impactos ambientais causado pelas atividades urbanas ao redor.
  • Cada lugar tem sua especificidade: Adapte o tema de acordo com a necessidade ou mesmo mediante a curiosidade da comunidade; promova discussões e ações a partir do interesse da turma.
  • Cada disciplina pode trabalhar o tema dentro do seu foco: Esse tema perpassa por todas as disciplinas. Por exemplo, em Língua Portuguesa pode-se trabalhar a interpretação de texto ou a elaboração de textos e projetos a respeito do tema. Já em Matemática, cálculos de volumes e proporções, análise e leitura de contas de luz e água ajudam na expansão do tema. Arte, Geografia, História e Educação Física estão diretamente conectadas a este tema. O caminho para  a educação ambiental multifacetada envolve uma abordagem holística que engloba tanto a conscientização individual quanto a ação coletiva.
  • Proporcione oportunidade para que as pessoas adquiram conhecimentos sólidos sobre ecologia, biodiversidade, recursos naturais, mudanças climáticas e outros temas ambientais relevantes. Isso pode ser feito por meio de aulas, workshops, materiais educativos elaborados pela própria comunidade e experiências práticas no campo.
  • Promova a adoção de práticas de vida sustentáveis que reduzam o impacto ambiental, como economia de energia, redução de resíduos, uso responsável da água, saneamento básico, transporte sustentável, alimentação consciente, entre outros.
Por meio de uma abordagem abrangente e colaborativa, a educação ambiental pode desempenhar um papel fundamental na construção de uma sociedade mais consciente, responsável e sustentável em relação ao meio ambiente. 

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Desvendando a Maré Vermelha: Fenômeno que provavelmente provocou intoxicação de mais de 400 pessoas entre o Litoral Norte de Alagoas e Pernambuco esta semana

Nesta quarta-feira(31/01), entre os municípios de Maracaípe e Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco(PE) e na quinta-feira (01/02) na Praia de Carro Quebrado, em Barra de Santo Antônio, no Litoral Norte de Alagoas(AL), centenas de pessoas apresentaram sintomas de intoxicação possivelmente por um fenômeno conhecido como Maré Vermelha ou Floração de Algas Nocivas(FAN). Dentre os sintomas relatados estão: enjoo, diarreia, dores no estômago, tremores,  irritação na pele, obstrução nasal, coriza, tosse e dor na garganta. 

A Maré Vermelha é um fenômeno natural que desperta interesse e preocupação, provocado pelo crescimento excessivo e descontrolado de algas microscópicas (Floração de Algas Nocivas) que fazem parte do plâncton marinho. Na maioria das vezes esta floração ocorre por algas do tipo dinoflagelados, que pertence a divisão das algas pirrófitas. O nome deriva do grego Pyrrhophyta, que significa da cor de fogo, devido a cor avermelhada. Além dos dinoflagelados, algas cianobactérias e diatomáceas também podem causar este fenômeno. Portanto,  não necessariamente a Maré Vermelha é vermelha, o fenômeno pode variar sua coloração entre tons que vão do vermelho ao marrom. A proliferação destas algas podem produzir toxinas prejudiciais a vida marinha e, em alguns casos, para os seres humanos.

Causas:

As causas da Maré Vermelha são multifacetadas e incluem fatores ambientais, como condições climáticas favoráveis (temperatura, salinidade e luminosidade), nutrientes excessivos na água (eutrofização) e alterações nos padrões de circulação oceânica. A poluição e o aquecimento das águas também podem contribuir significativamente no aumento e intensidade deste fenômeno. 

Toxinas:

  • Uma das principais toxinas liberadas pelos dinoflagelados é a saxitoxina, são toxinas com alta neurotoxidade; outras toxinas podem ser o ácido ocadáico e as dinofisistoxinas que podem causar diarreia.
  • As toxinas produzidas pelas algas podem ser levadas pelo ar através dos respingos das ondas e do vento (maresia) e causar os sintomas, mesmo que a pessoa não tenha entrado no mar.
  • Animais filtradores como ostras e mariscos podem sobreviver ao fenômeno da Maré Vermelha e, posteriormente, transportar as toxinas, contaminando a cadeia alimentar, inclusive o homem. Deve-se evitar a ingestão destes animais durante algumas semanas nas regiões onde o fenômeno foi registrado
  • O consumo de peixes contaminados também deve ser evitado.

Impactos Ambientais e Econômicos:

Os impactos da floração de microalgas são amplos e variados. Com a proliferação destas algas, ocorre a diminuição da luminosidade necessária para a fotossíntese no local afetado. A água com pouco oxigênio compromete a vida aquática, causando a mortalidade de organismos marinhos por asfixia. A Maré Vermelha pode causar intoxicação em seres humanos e as toxinas liberadas podem contaminar os "frutos do mar", representando um risco para saúde humana e para a indústria pesqueira e turística. 
Felizmente estes fenômenos são raros no litoral alagoano, e dura cerca de 3 dias para dissipação. Aqui em Alagoas, o IMA-AL isolou a praia de Carro Quebrado e está monitorando o local. A Prefeitura recomendou evitar ir a praia ou tomar banho de mar nas proximidades. Outra recomendação é para que banhistas observem a coloração e o odor da água do mar.


Monitoramento e Mitigação

O principal ambiente afetado pelo fenômeno são os estuários (locais onde as águas doces de rios e córregos fluem até o oceano e se misturam com a água salgada do mar), portanto o monitoramento contínuo pelos órgãos ambientais das condições oceânicas e a detecção precoce destes surtos de Maré Vermelha são essenciais para implementar medidas de mitigação e proteção da saúde pública e dos ecossistemas marinhos. Para tanto, é necessário a colaboração entre as comunidades locais, pescadores, banhistas, cientistas e autoridades governamentais.
Por ser um fenômeno complexo e dinâmico, apenas um estudo integrado e multidisciplinar poderá esclarecer o fato ocorrido esta semana.

Curiosidade: 

A Maré Vermelha é um exemplo de Amensalismo, relação ecológica interespecífica e desarmônica, pois a floração das algas responsáveis prejudicam o desenvolvimento de outros organismos, podendo leva-los à morte.

domingo, 3 de dezembro de 2023

O drama da subsidência do solo em Maceió: entenda como a extração de sal-gema pela Braskem está afetando e mudando o mapa da capital de Alagoas

Esta semana a cidade de Maceió, esteve em todos os noticiários por um problema que desde 2018 tem sido vivenciado pelos moradores de vários bairros da cidade. O drama do colapso do solo, está relacionado à exploração de sal-gema pela empresa Braskem. A situação é complexa e envolve questões ambientais, sociais e econômicas.



Em 03 de março de 2018, um tremor de terra causou afundamento do solo e  rachaduras em casas e estabelecimentos comerciais de cinco bairros de Maceió: Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Mutange e Farol. Após análise do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), chegou-se a conclusão que as atividades de extração de sal-gema pela Braskem estavam causando danos ambientais e contribuindo para a subsidência do solo. Os danos estruturais observados representava uma série de ameaças para a segurança dos residentes. Desde então, a Petroquímica que extraía o minério na região desde 1976 encerrou suas atividades nas 35 minas existentes na capital alagoana. Começava aí uma interdição obrigatória que transformou em definitivo a vida de moradores e comerciantes que tiveram suas trajetórias alteradas com a desocupação dos bairros no entorno da Lagoa Mundaú. Quase 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas, histórias e memórias para trás, bairros tradicionais, antigos e populosos viraram bairros fantasmas. Igrejas antigas, escolas tradicionais, hospitais e até mesmo a sede do IMA foram desocupadas, o Cemitério Santo Antônio, em Bebedouro, do século XIX, acabou sendo fechado em 2020.

O engenheiro civil  e professor aposentado da Ufal, Abel Galindo e o ecologista e pesquisador José Geraldo Marques foram os primeiros a alertarem sobre os problemas socioambientais causados pela antiga Salgema, atual Braskem, mesmo antes da subsidência dos bairros.  Desde 2010, vários estudos já indicavam a mineração predatória da Petroquímica.



O que é sal-gema?

O sal-gema é uma rocha sedimentar formada principalmente por minerais de sal (NaCl), que é o mesmo composto encontrado no sal de cozinha comum. A formação do sal-gema ocorre pela evaporação de águas salgadas em ambientes geológicos específicos, com formação do mineral Halita.

O processo ocorre ao longo de extensos períodos geológicos até a formação do sal-gema. Inicialmente, a água salgada é retida em uma área restrita, como uma bacia ou depressão. À medida que ela evapora, os sais dissolvidos começam a se acumular em sucessivas camadas. Com o tempo, essas camadas se compactam e se transformam em uma rocha sólida conhecida como sal-gema. 

A Braskem é responsável pela exploração do sal-gema em Maceió, ele é exportado e utilizado na indústria química para produção de cloro, soda cáustica e outros produtos químicos. Além destas aplicações, o sal- gema pode ser utilizado no degelo de estradas, quando misturado ao cloreto de cálcio. No entanto, a exploração excessiva e inadequada pode ter impactos ambientais significativos como os observados em Maceió. Portanto, a mineração e a exploração desse recurso deve ser conduzida de maneira cuidadosa e sustentável para evitar danos socioambientais.



Colapso da mina e tragédia urbana na capital

Após cinco tremores de terra em novembro, foi detectado um  iminente colapso da mina 18 da Braskem, localizada no antigo campo do CSA. A  prefeitura decretou na quinta-feira (30) estado de emergência por 180 dias, sendo reconhecido pelo Governo Federal no dia 01 de dezembro. A defesa civil emitiu um alerta para evacuação de
toda população que ainda reside na região do Bom Parto e impediu a circulação de embarcações na Lagoa Mundaú, no bairro Mutange. 
Alguns fatores preocupam a população e agravam a situação:
  • Subsidência do Solo: O afundamento do solo pode resultar em uma tragédia urbana em caso de colapso.
  • Impacto nos Bairros: A geografia dos bairros de Maceió já foi modificada nestes últimos 5 anos. Mas não se pode prever quantos outros bairros fantasmas podem surgir na capital caso haja uma tragédia.
  • Risco para a população: Além dos danos materiais, a segurança e a saúde dos moradores devem ser prioridades neste momento. O colapso do solo pode representar riscos graves para a vida além dos impactos psicológicos na comunidade.
  • Responsabilidade da Braskem:  A empresa Braskem foi apontada como responsável pelos danos. A situação é um exemplo de como a exploração inadequada de recursos naturais pode ter sérias consequências para as comunidades locais. As soluções para esse drama envolvem uma abordagem multifacetada, que inclui compensação para as vítimas, remediação ambiental e reformas regulatórias para evitar que situações semelhantes ocorram no futuro.
  • Ações Governamentais: É preciso aprimorar as regulamentações ambientais e a fiscalização das atividades industriais para avaliar os danos e encontrar soluções a longo prazo. Neste momento, as autoridades têm que estar envolvidas no monitoramento e na gestão da crise.
  • Aumento da salinidade na lagoa Mundaú: A Lagoa Mundaú faz parte do Complexo Estuarino lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM), o sal-gema ao se misturar com a água da laguna pode aumentar a salinização causando sérios impactos ambientais neste ecossistema que possui um valor socioeconômico significativo para o estado de Alagoas. 


sábado, 25 de novembro de 2023

AGENDA 2030 da ONU: Desafios Sociombientais

Em Setembro de 2015, 193 Estados-membros que integram a Organização da Nações Unidas (ONU) comprometeram-se a promover o Desenvolvimento Sustentável nas áreas econômica, social e ambiental, com a AGENDA 2030.  Um compromisso feito através de um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para prosperidade. 
É inegável que os últimos anos têm sido marcados por uma série de desafios significativos que impactam diretamente a busca por um caminho sustentável e resiliente para o mundo, conforme delineado pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A pandemia de Covid-19, as mudanças climáticas radicais, as tensões entre Rússia e Ucrânia, e os recentes ataques terroristas do Hamas que desencadearam a Guerra de Israel contra a Faixa de Gaza são eventos que têm comprometido o progresso em direção a essas metas ambiciosas.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030:

  1. Erradicação da Pobreza: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
  2. Fome Zero: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição, e promover a agricultura sustentável.
  3. Saúde e Bem-Estar: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
  4. Educação de Qualidade: Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
  5. Igualdade de Gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
  6. Água Limpa e Saneamento: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.
  7. Energia Limpa e Acessível: Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.
  8. Trabalho Decente e Crescimento Econômico: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.
  9. Indústria, Inovação e Infraestrutura: Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação.
  10. Redução das Desigualdades: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
  11. Cidades e Comunidades Sustentáveis: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
  12. Consumo e Produção Responsáveis: Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
  13. Ação Contra a Mudança Global do Clima: Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.
  14. Vida na Água: Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
  15. Vida Terrestre: Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir florestas de forma sustentável, combater a desertificação e deter e reverter a degradação da terra.
  16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
  17. Parcerias e Meios de Implementação: Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável.

No mundo ideal, a Agenda 2030 é um compromisso global para criar um mundo mais sustentável, inclusivo e equitativo. Mas no mundo real a humanidade tem se distanciado destes objetivos e consequentemente o planeta vive uma emergência para garantir um futuro sustentável para as gerações presentes e futuras.

A Pandemia de Covid-19, mostrou o quanto ainda estamos vulneráveis  nas áreas de Erradicação da pobreza (ODS1),  Saúde e bem-estar (ODS3), Água limpa e Saneamento(ODS6) e Redução das Desigualdades(ODS10). Além disso, a Pandemia colocou luz sobre um aspecto crítico em nosso país que é a Educação de Qualidade (ODS4) em um momento onde houve uma diminuição na média de aprendizagem em todas as séries, principalmente para os estudantes de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio. 

As mudanças climáticas radicais observadas nos últimos anos agravaram ainda mais a urgência de ações para combater a crise climática. Eventos extremos, como observados no Brasil: temperaturas acima da média, seca na região norte com baixa umidade, incêndios na Amazônia, ondas de calor com chuvas acima da média nas regiões Sul e Sudeste, ciclone extratropical no Sul, inundações, vendaval com rajadas de vento com mais de 100 km/h, como a que atingiu a capital de São Paulo (SP), têm consequências diretas nos objetivos relacionados à Vida na água(ODS14), Vida terrestre (ODS15), Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS11) e principalmente na Ação Contra a Mudança Global do Clima(ODS13). Mesmo sendo um ano do menino levado El Niño, que aumenta a temperatura das águas do Pacífico e provoca alterações climáticas, o que presenciamos neste ano no Brasil e no mundo foi um grito de socorro do nosso planeta e uma chamada a ação direta para necessidade de ações de mitigação e adaptação da humanidade mediante aos riscos iminentes.

As tensões geopolíticas, como as guerras entre Rússia e Ucrânia, também afetam a busca por um mundo mais pacífico e igualitário, colocando em risco os objetivos de Paz, Justiça e Instituições Eficazes (ODS16). Os ataques terroristas do Hamas e a subsequente guerra em Israel contra a Faixa de Gaza introduziram desafios adicionais, impactando a estabilidade regional e comprometendo esforços para alcançar Parcerias e Meios de Implementação (ODS17). Se a convivência pacífica entre os seres humanos está difícil, mesmo em países que não estão em guerra, o que esperar desta sociedade em relação ao planeta?

Em face desses desafios, a comunidade internacional enfrenta a tarefa de redobrar esforços e adotar abordagens mais significativas, eficazes e inclusivas para superar as adversidades e avançar em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A coordenação global de forma mais enfática é essencial para diminuir os impactos adversos e promover a resiliência em um mundo cada vez mais interconectado e ao mesmo tempo mais individualizado, onde os interesses individuais frequentemente se sobressaem aos interesses coletivos. Há uma necessidade urgente de mecanismos de governança, regulamentação e conscientização para que a responsabilidade social e a cooperação superem o efeito negativo desta dinâmica de interesses individuais frente aos interesses coletivos.







quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Algas arribadas: desvendando um pouco mais deste fenômeno

 As praias são lugares conhecidos por sua beleza e tranquilidade, mas também escondem segredos intrigantes que muitos desconhecem. Um desses mistérios é o fenômeno das algas arribadas, que revelam um universo à parte do litoral marinho.

No mar de Maceió, capital do Estado de Alagoas - Brasil,  é possível encontrar uma variedade de macroalgas. Frequentemente ao caminhar pelas praias da cidade encontramos uma grande quantidade de biomassa de algas arribadas, também chamadas de algas encalhadas ou "sargaço". Essas algas são arrancadas de seus substratos naturais e levadas até as praias do litoral, criando verdadeiras tapeçarias de cores e texturas durante a maré baixa (baixa-mar). Isto ocorre sob certas condições climáticas oceanográfica naturais, tais como: ventos, tempestades, ondas, correntes e marés em ciclos naturais de ressuspensão e redeposição, durante as marés altas e baixas respectivamente. 

A paleta de cores destas macroalgas varia desde vermelho vibrantes até tons sutis de verde e marrons.. Aqui estão alguns dos principais tipos de algas encontradas nessa região:

  1. Algas pardas (Feófitas): As algas pardas são outro grupo comum nas águas marinhas de Maceió. Elas variam em tamanho e forma, desde pequenas algas filamentosas até grandes algas conhecidas como "kelps". Exemplos de algas pardas encontradas na região incluem as espécies Sargassum spp., Padina spp. e Turbinaria spp.
  2. Algas verdes (Clorófitas): As algas verdes são comumente encontradas nas águas marinhas de Maceió. Elas podem variar em tamanho e forma, desde algas microscópicas unicelulares até grandes algas multicelulares. Algumas das espécies mais comuns são as Ulva sp. (conhecidas como "alface-do-mar") e Enteromorpha sp.
  3. Algas vermelhas (Rodófitas): As algas vermelhas também são bastante presentes nas águas de Maceió. Elas são geralmente multicelulares e possuem pigmentos vermelhos que lhes dão essa coloração característica. Alguns exemplos de algas vermelhas encontradas nessa região incluem as espécies da família Gelidiaceae, Gracilaria spp. e Hypnea spp.

É importante ressaltar que a presença e a abundância dessas algas podem variar ao longo do tempo e são influenciadas por fatores ambientais, como a temperatura da água, os nutrientes disponíveis e a qualidade da água. Sua decomposição contribui para enriquecer a areia com nutrientes vitais, influenciando a biodiversidade costeira. As algas arribadas servem  de refúgio e alimento para vários invertebrados que vivem neste habitat. Este fenômeno também pode contribuir para diminuir o efeito das ondas nas praias, sendo importante para o equilíbrio ecológico.
Ao caminhar pela praia e se deparar com essas tapeçarias vivas de algas, considere a complexidade por trás deste fenômeno e o impacto que ele tem na vida marinha e nas praias que tanto amamos. Cuidado ao pisar nestes tapetes, pois infelizmente, nós humanos poluímos todos os ambientes e junto com as algas arribadas podem estar pedaços de plásticos, metal ou vidros que podem causar ferimentos.
Aproveite este momento para aguçar sua curiosidade e ampliar seus conhecimentos científicos, observe atentamente e tente reconhecer a variedade de algas que ali se esconde.
Muitas vezes esses tapetes de macroalgas arribadas podem estar em estado fresco ou em processo de decomposição, isto vai depender de alguns fatores abióticos como o tempo de exposição, as condições climáticas e a zona entremarés onde elas se depositam. 

Conhecendo algumas algas 

Sargassum sp., alga parda (Phaeophyta) que vai do marrom claro ao escuro,
possuem vesículas cheias de ar que funcionam como flutuadores
.
Padina gymnospora,  alga parda (Phaeophyta) conhecida como orelha de rato,
possui talo ereto em formato de leque.



Ulva lactuca, alga verde (Chloropyta)
 conhecida como alface da praia possui talo foliáceo


Caulerpa racemosa., algas verdes (Chlorophyta),
 parecidas como pequenos cachos de uva


Halimeda sp., algas calcáreas verdes que possui carbonato de cálcio,
 em estado natural são da cor verde esbranquiçada.


Enteromorpha flexuosa, algas verdes filamentosas

Gracilaria sp., alga vermelha (Rodophyta)



Além disso, a biodiversidade das algas marinhas pode ser ainda mais ampla, incluindo outros tipos e espécies não mencionadas aqui.