domingo, 3 de dezembro de 2023

O drama da subsidência do solo em Maceió: entenda como a extração de sal-gema pela Braskem está afetando e mudando o mapa da capital de Alagoas

Esta semana a cidade de Maceió, esteve em todos os noticiários por um problema que desde 2018 tem sido vivenciado pelos moradores de vários bairros da cidade. O drama do colapso do solo, está relacionado à exploração de sal-gema pela empresa Braskem. A situação é complexa e envolve questões ambientais, sociais e econômicas.



Em 03 de março de 2018, um tremor de terra causou afundamento do solo e  rachaduras em casas e estabelecimentos comerciais de cinco bairros de Maceió: Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Mutange e Farol. Após análise do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), chegou-se a conclusão que as atividades de extração de sal-gema pela Braskem estavam causando danos ambientais e contribuindo para a subsidência do solo. Os danos estruturais observados representava uma série de ameaças para a segurança dos residentes. Desde então, a Petroquímica que extraía o minério na região desde 1976 encerrou suas atividades nas 35 minas existentes na capital alagoana. Começava aí uma interdição obrigatória que transformou em definitivo a vida de moradores e comerciantes que tiveram suas trajetórias alteradas com a desocupação dos bairros no entorno da Lagoa Mundaú. Quase 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas, histórias e memórias para trás, bairros tradicionais, antigos e populosos viraram bairros fantasmas. Igrejas antigas, escolas tradicionais, hospitais e até mesmo a sede do IMA foram desocupadas, o Cemitério Santo Antônio, em Bebedouro, do século XIX, acabou sendo fechado em 2020.

O engenheiro civil  e professor aposentado da Ufal, Abel Galindo e o ecologista e pesquisador José Geraldo Marques foram os primeiros a alertarem sobre os problemas socioambientais causados pela antiga Salgema, atual Braskem, mesmo antes da subsidência dos bairros.  Desde 2010, vários estudos já indicavam a mineração predatória da Petroquímica.



O que é sal-gema?

O sal-gema é uma rocha sedimentar formada principalmente por minerais de sal (NaCl), que é o mesmo composto encontrado no sal de cozinha comum. A formação do sal-gema ocorre pela evaporação de águas salgadas em ambientes geológicos específicos, com formação do mineral Halita.

O processo ocorre ao longo de extensos períodos geológicos até a formação do sal-gema. Inicialmente, a água salgada é retida em uma área restrita, como uma bacia ou depressão. À medida que ela evapora, os sais dissolvidos começam a se acumular em sucessivas camadas. Com o tempo, essas camadas se compactam e se transformam em uma rocha sólida conhecida como sal-gema. 

A Braskem é responsável pela exploração do sal-gema em Maceió, ele é exportado e utilizado na indústria química para produção de cloro, soda cáustica e outros produtos químicos. Além destas aplicações, o sal- gema pode ser utilizado no degelo de estradas, quando misturado ao cloreto de cálcio. No entanto, a exploração excessiva e inadequada pode ter impactos ambientais significativos como os observados em Maceió. Portanto, a mineração e a exploração desse recurso deve ser conduzida de maneira cuidadosa e sustentável para evitar danos socioambientais.



Colapso da mina e tragédia urbana na capital

Após cinco tremores de terra em novembro, foi detectado um  iminente colapso da mina 18 da Braskem, localizada no antigo campo do CSA. A  prefeitura decretou na quinta-feira (30) estado de emergência por 180 dias, sendo reconhecido pelo Governo Federal no dia 01 de dezembro. A defesa civil emitiu um alerta para evacuação de
toda população que ainda reside na região do Bom Parto e impediu a circulação de embarcações na Lagoa Mundaú, no bairro Mutange. 
Alguns fatores preocupam a população e agravam a situação:
  • Subsidência do Solo: O afundamento do solo pode resultar em uma tragédia urbana em caso de colapso.
  • Impacto nos Bairros: A geografia dos bairros de Maceió já foi modificada nestes últimos 5 anos. Mas não se pode prever quantos outros bairros fantasmas podem surgir na capital caso haja uma tragédia.
  • Risco para a população: Além dos danos materiais, a segurança e a saúde dos moradores devem ser prioridades neste momento. O colapso do solo pode representar riscos graves para a vida além dos impactos psicológicos na comunidade.
  • Responsabilidade da Braskem:  A empresa Braskem foi apontada como responsável pelos danos. A situação é um exemplo de como a exploração inadequada de recursos naturais pode ter sérias consequências para as comunidades locais. As soluções para esse drama envolvem uma abordagem multifacetada, que inclui compensação para as vítimas, remediação ambiental e reformas regulatórias para evitar que situações semelhantes ocorram no futuro.
  • Ações Governamentais: É preciso aprimorar as regulamentações ambientais e a fiscalização das atividades industriais para avaliar os danos e encontrar soluções a longo prazo. Neste momento, as autoridades têm que estar envolvidas no monitoramento e na gestão da crise.
  • Aumento da salinidade na lagoa Mundaú: A Lagoa Mundaú faz parte do Complexo Estuarino lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM), o sal-gema ao se misturar com a água da laguna pode aumentar a salinização causando sérios impactos ambientais neste ecossistema que possui um valor socioeconômico significativo para o estado de Alagoas.