Olá, pessoal! Já tem algum tempo... aliás, muito tempo...que não publicava mais no BLOG. Cerca de cinco anos atrás, passei momentos de luto com a morte de muitos familiares queridos e, como acontece com todos... após os óbitos tive que enfrentar DESERTO DO LUTO (após o choque de realidade) . Neste deserto passamos pela fase da negação, do medo, da angústia, do isolamento, da raiva e, no meu caso, da Depressão e da Síndrome do Pânico.
Descobri (depois de alguns anos de terapia) que tentei ser FORTE ao perder meus entes e para tanto, dediquei-me a trabalhar desesperadamente... cinco dias após o sepultamento das duas últimas pessoas, uma delas sendo a minha mãe (em um total de 6) que perdi em 47 dias. Só que esta forma de negação do luto, posteriormente se manifestou como Depressão.
O fato é que a Depressão em nossa Sociedade ainda é uma doença muito estigmatizada. Passados 11 meses do último sepultamento, comecei a ter sentimentos de entorpecimento, dormência nas extremidades das mãos e dos pés, dificuldade de concentração, náuseas, insônias de até 72 horas e pesadelos quando conseguia dormir. Tais pesadelos eram recorrentes e o desgaste emocional levou-me a buscar ajuda profissional com psiquiatra e psicólogos.
Claro que esta decisão de buscar ajuda não foi tão simples como parece nesta narrativa. O primeiro profissional que eu procurei foi o cardiologista da família. Eu sentia-me com uma profunda tristeza, seguida por muita sudorese e palpitações. Foi ele, o Dr.Luiz, que me alertou para o fato de que eu estava hipertensa, diabética e possivelmente... depressiva. Ele pediu para que eu procurasse com urgência a ajuda de um psiquiatra e, assim o fiz.
Na primeira consulta com minha psiquiatra a única coisa que ela ouviu de mim foi o som da minha voz em uma crise profunda de choro reprimido do tempo em que tentei ser FORTE. Foram cerca de 50 minutos de choro ininterrupto. Nenhuma palavra pronunciada, somente DOR e choro de lamento, saindo em gotas de água salgada que chamamos de lágrimas. Passado a primeira hora de consulta, tentei balbuciar alguma coisa sobre o que me levara a consulta, neste dia falei muito pouco, mas o suficiente para que ela entendesse que o meu quadro depressivo era profundo. Saí do consultório me sentindo um pouco mais leve, por CHORAR... e com várias receitas de antidepressivos, ansiolíticos, remédio sublingual para dormir, entre outros.
Sou uma pessoa pragmática. Então, se para melhorar daquela dor desesperadora que eu estava sentindo, havia necessidade do uso de medicação controlada. Vamos Tomá-las!
As duas primeiras semanas não foram boas, são várias as reações adversas que estes remédios nos causam... acho que tive todas rsrsrs, não tenho como afirmar se tive ou não todas porque nunca li nenhuma BULA dos remédios. Como bióloga e Técnica em Enfermagem, sabia o que eram remédios psicotrópicos, mas naquele momento eram extremamente necessários. Fui afastada do trabalho por motivos óbvios: adaptação do organismo as reações adversas da medicação.
Passado a fase inicial, comecei, aos poucos e vagarosamente melhorar minha qualidade de vida. Voltei para segunda consulta, onde mesmo com momentos de choros compulsivos, pude narrar um pouco do que me levara até aquele consultório.
Mais 30 dias de licença para cuidar da saúde, procurar uma terapeuta e fazer atividades físicas. Minha rotina antes era acordar às 5h45min., preparar o almoço, trabalhar de 7h às 22h. Sim, esta é a rotina da maioria dos professores brasileiros. Catorze aulas por dia! 5 pela manhã, 5 à tarde e 4 a noite e durante 22 anos minha "louca" rotina incluía pegar os filhos na escola, levar em casa, dar o almoço, levá-los para os esportes escolhidos ou para as aulas de inglês e mal tinha tempo de comer. Nosso carro era nossa casa, dentro dele eram dadas as instruções de como iriam fazer o dever de casa a noite, nosso lazer também era ali, no carro, juntos. Chegava em casa por volta das 22h15min, começava uma quarta jornada de trabalho: olhar a agenda da escola, prepara o lanche, adiantar o almoço, lavar as blusas do uniforme e ver se eles haviam feito o dever de casa, escovado os dentes, deitar com eles, ler um livro, orar por eles, arrumar a casa e enfim, descansar.
Como uma forma de terapia, comecei a fazer academia, aulas de danças e acupuntura. Nesta curta fase, me senti bem melhor... Porém comecei a sentir dor no joelho direito. Procurei alguns especialistas que me disseram ser "derrame articular" também tecnicamente chamada de sinovite e vulgarmente de "água no joelho".
Este nome SINOVITE causa tanta estranhesa que meu professor de dança brincava comigo dizendo que eu era a única pessoa do mundo que tinha SINUSTE no joelho... mas descobri, posteriormente, que havia sofrido esfacelamento da patela e ruptura dos ligamentos. O inchaço apresentado, era acúmulo de pús no joelho. Foi ai então que um novo DESERTO me foi imposto. Ficar nove meses em uma cadeira de rodas...
Porque estou contando estas coisas para vocês?
O que isso tem haver com a Pandemia do Covid-19?
Bom, eu tinha que começar a escrever de algum ponto vivido. Hoje, 23 de março de 2020, 19h02min, tem 27 dias que a Pandemia chegou ao Brasil (O dia 1 no Brasil foi o dia 26 de Fevereiro) e eu estou novamente enfrentando meus DESERTOS. Desta vez com mais pessoas ao meu redor, ou melhor, com todo o planeta. Cada um no seu quadrado, isolado, ficando em casa, em quarentena... (quando eu era pequena achava que quarentena era de 40 dias), mas pelo desenho que esta Pandemia está fazendo serão uns 180 dias de DESERTO. O que eu posso te dizer agora... uma coisa que digo sempre... Companheiros de Desertos são irmãos que a vida nos apresenta! Então, muito prazer... vamos passar por este deserto JUNTOS! Claro, se você quiser minha companhia. Vamos fazer da nossa "solidão" uma grande companhia, caminhando lado a lado... com distancia de dois metros de segurança, por favor! rsrsrs
Não precisa, o Covid-19 ainda não fez amizade com o vírus do nosso computador
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