domingo, 14 de outubro de 2012

Ensinar é aprender, não é transmitir conhecimentos

Lindo texto de Ivone Boechat
Ensinar é aprender. Ensinar não é transmitir conhecimentos. O educador não tem o vírus da sabedoria. Ele orienta a aprendizagem, ajuda a formular conceitos, a despertar as potencialidades inatas dos indivíduos para que se forme um consenso em torno de verdades e eles próprios encontrem as suas opções. A etimologia revela que o substantivo aprendizagem deriva do latim "apprehendere", que significa apanhar, apropriar, adquirir conhecimento. O verbo aprender deriva de preensão, do latim "prehensio-onis", que designa o ato de segurar, agarrar e apanhar, prender, fazer entrar, apossar-se de. Ensinar: palavra latina insignīre, quer dizer "marcar, distinguir, assinalar". É a mesma origem de "signo", de "significado". A principal meta da educação se processa em torno da auto-realização. Logo, ela propõe a reformulação constante de diretrizes obscuras para alcance dos objetivos, comprometidos com a valorização da vida. A educação carimba a sociedade que deseja ter ! O professor, como agente de comunicação, transformou-se num dos mais pobres recursos e dos mais ricos. Quando se imagina dono da verdade, rei do currículo, imperador do pedaço, mendiga e se frustra. Quando se apresenta cheio de humildade, de compreensão e vontade de aprender, resplandece e brilha! Os estudantes estão abastecidos por uma carga de informações cuja capacidade de assimilação nem comporta. O ser humano tem potência de semi-deus, com emoções de um mortal. O avanço da era espacial em que vive tornou o homem angustiado pela consciência de sua fragilidade para absorver e superar os desafios à sua volta. É mister que se reestruture o conceito de Escola ou se reconheça a sua derrota. Os que nela atuam não podem continuar a caminhar distantes da realidade, em marcha lenta, porque assim, estão concorrendo para o fracasso. Repetindo uma expressão muito antiga, “a Escola não sabe a força que ela tem.” Deve-se abolir, de imediato, a cultura do supérfluo, selecionando conteúdos mais significantes e atuais. Não se pode contribuir para que o desinteresse se instale e, conseqüentemente, esvazie o espaço da aprendizagem permanente. O educador deve se preparar para estar apto perante a onipotência da máquina, e não se assustar com a sua eficiência. Estar sempre atento aos transbordamentos da ciência e não se embrutecer na resposta. De que valem as "reformas" educacionais, se mudanças radicais não ocorrem? Elas passam, os problemas maiores continuam, gerações se substituem e, no universo de perguntas não respondidas, resultados positivos não se operam, muitas vezes. Os enlatados culturais intoxicam como os outros, se transformam em "pacotes culturais" e saem por aí, empacotando a sensibilidade, a criatividade, que tanto contaminam a educação. Um exemplo? Entende-se barulho como música! Poesia como cafonice, família como utopia, Pátria como sucata. Quem ama educa, educar é educar-se a cada dia, sem a pretensão de preparar para a vida. O poder de adivinhar o futuro o educador não o possui. Ele orienta, para que, em situações imprevisíveis, se processem alternativas. Educar não é ensinar, é aprender. Ivone Boechat é Professora em Niterói/RJ

3 comentários:

  1. Prece da criança

    Ivone Boechat (autora)

    Senhor,
    estou muito assustado,
    estão nos fazendo medo,
    fico até cansado de pensar
    um jeito de proibir os adultos
    de matar os passarinhos,
    de acabar com os rios,
    de poluir os mares.
    Tudo que o Senhor fez é tão bonito,
    até me irrito,
    quando vejo guerras dominando alguns lugares.
    Quero sonhar
    com uma escola feliz,
    com professores sorrindo,
    e uma nota que dê para passar...
    É isto que sempre quis...
    Ah! Quero minha família unida,
    segurança para brincar na praça,
    a imensa graça, de dormir,
    sabendo que se há alguém na rua
    vai poder voltar.
    Amém.

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  2. Monólogo da criança
    Ivone Boechat (autora)

    Sou criança!
    Cheguei, recentemente, de uma longa viagem,
    andei pelo caminho misterioso
    do pensamento dos meus pais e,
    durante a concepção,
    fiz um estágio muito feliz,
    ao lado do coração da minha mãe.
    Estou aqui,
    um pouco assustada, porque
    os adultos conversam coisas estranhas
    que ainda não consegui entender.
    A vida é simples, bonita e colorida,
    por que complicam tanto?
    Sabe,
    imaginam que nós, crianças,
    somos incapazes, fracas e bobas.
    Não é nada disto.
    A gente apenas se esforça para crescer
    e ajudar a construir este mundo:
    soltar os passarinhos das gaiolas;
    fazer jardins para os beija-flores;
    salvar o azul cristalino dos rios;
    abrir as janelas das casas e soltar as pessoas,
    proteger os animais!
    As pessoas crescem,
    ficam fortes, nos sufocam com as suas idéias,
    não nos deixam falar.
    Quero dizer que toda criança
    traz uma mensagem divina de paz.
    Por favor,
    se você está triste,
    magoado,
    ou muito cansado,
    que culpa têm as crianças?
    Não deposite suas dores e lágrimas
    nesta plantinha que mal começa a brotar,
    ela se chama criança,
    para crescer e florescer feliz
    dê a ela os fluídos magnéticos
    e milagrosos do Amor.

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  3. Professor
    Alguém um dia se propôs a trabalhar na construção de vidas, estudou psicologia, filosofia e as melhores técnicas de comunicação. Passou dias, horas e minutos, observando o comportamento de todas as faixas etárias do ser humano.
    Alguém se sentiu vocacionado e, atendendo aos apelos do coração, inscreveu-se na batalha de frente da luta milenar contra os analfabetismos.
    Armado de pouquíssimos recursos materiais, postou-se, de peito aberto, levando flechadas federais, estaduais, municipais.
    Alguém se especializou nas oficinas mecânicas do ser humano e candidatou-se a reformar conceitos e valores da educação mal orientada.
    Alguém se inscreveu no concurso da vida, não se importando de sacrificar o próprio corpo na concorrência desleal de convênios, convenções, tratados e dissídios.
    Alguém se fez alheio às dificuldades, tendo plena certeza delas, e saiu disposto a questionar leis, portarias, resoluções e regimentos. Nos desmaios da sobrevivência, impôs-se.
    Alguém foi nomeado, designado, empossado para o exercício do magistério, não se perdeu no labirinto do caminho nem se assustou com o fantasma da exigência impossível. Saiu a procurar o aluno perdido nas balas perdidas da guerra civil.
    Alguém convive com a distância, com a fome, com a injustiça, com a carência e a canseira, contudo, ensina gerações a acreditar no futuro, a ter fé e não se deter.
    Para um ser assim tão especial, só um nome poderia identificá-lo: PROFESSOR.

    Ivone Boechat

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