sábado, 8 de setembro de 2012

A VIAGEM DE DARVIN A BORDO DO HMS BEAGLE – PARTE 2


“Durante a minha viagem a bordo do navio HMS (His/Her; Majesty's; Ship) Beagle, na condição de naturalista, fiquei profundamente impressionado com certos factos relativos à distribuição das populações da América do Sul e com as relações geológicas existentes entre os habitantes do presente e do passado desse continente. Estes factos pareciam-se lançar alguma luz sobre a origem das espécies – esse mistério dos mistérios”. Charles Darwin



Uma curiosidade que descobri esta semana foi que a expedição em que Darwin participou foi a segunda do navio HMS Beagle. Na primeira expedição(1826) o navio realizou o levantamento hidrográfico das águas costeiras da Patagônia e da Terra do Fogo. Nesta expedição o comandante do navio era o capitão Pringle Stokes, que cometeu suicídio após uma depressão pelo isolamento em 1828. Foi por este fato que o comando do Beagle passou para FritzRoy. De volta a Inglaterra, FritzRoy levou consigo quadro indígenas fuegianos, uma das etnias da Terra do fogo. Após a exibição destes a eventos sócias, inclusive a corte inglesa, como selvagens, FritzRoy planejou uma nova expedição para o Beagle, na qual empenhou significativa parte da fortuna da sua família.
Em 1831, Darwin inicia a expedição e começa o seu relato a cerca da viagem dizendo assim: “Depois de ter sido arremessado duas vezes pelo vento a sudoeste, o barco de sua majestade, partiu de Davenport em 27 de Dezembro de 1831”
Mais tarde, escrevendo sobre a viagem ele diz: “Pelo que posso julgar, eu trabalhei bastante durante a viagem não só por mero prazer de investigar mas também pelo meu grande desejo de adicionar alguns factos ao enorme conhecimento das Ciências Naturais”
A relação de Darwin com o mar não era das melhores, uma vez que passava grande parte do tempo enjoado. No navio, Darwin partilhou uma pequena cabina situada na popa, de 3 m por 3,3 m, com mais dois oficiais da marinha. Durante o dia a cabina era utilizada como casa dos mapas, como biblioteca (com cerca de 245 volumes) e ainda como laboratório onde Darwin preparava os espécimes. Depois do jantar, o jovem naturalista pendurava na cabina uma rede que lhe servia de cama. O espaço era tão apertado que Darwin tinha de remover uma gaveta para ter espaço para os pés.
A primeira parada do HMS Beagle estava prevista para ilhas Canárias, fato que não ocorreu porque havia uma epidemia de cólera na Grã-Bretanha e as autoridades espanholas proibiram os barcos britânicos de atracar em Terra, pois não queriam que houvesse qualquer possibilidade de contágio. Logo, a primeira parada do Beagle foi na ilha vulcânica de Santiago, no arquipélogo de Cabo Verde. Sobre este momento, Darwin escreveu: “Aqui foi onde em vi pela primeira vez a glória da vegetação tropical. Tâmaras, bananas e palmeiras floresciam no meu caminho. Eu voltei para o navio, pisando rochas vulcânicas, vendo novos insectos pousando em novas flores. Tem sido para mim um dia glorioso, como quando se dá visão a uma homem cego”.
Em fevereiro de 1832, Darwin chega ao Brasil, recebe o apelido de Philos e faz coleções pessoais de espécimes. Ele se impressionou com o arquipélago de São Pedro e São Paulo, antes de passar por Fernando de Noronha. Fascinado pela exuberância da natureza tropical na Bahia ele declara «… nunca tinha sentido tão grande encantamento». Mas fica chocado com a forma com que os escravos são tratados no Rio de Janeiro: “Perto do Rio de Janeiro vivi frente a uma velha senhora que tinha um instrumento para esmagar os dedos das suas escravas. E fiquei numa casa onde um jovem mulato era insultado, espancado e perseguido todos os dias e todas as horas. Era o suficiente para quebrar o espírito até do animal mais baixo”.
Em seus registros no Rio, Darwin anota que “poucos dias depois de nossa chegada, conheci um inglês que se preparava para visitar suas propriedades, situadas a pouco mais de 100 milhas [160 km] da capital, ao norte de Cabo Frio. Ele teve a gentileza de me convidar como companhia, o que aceitei com prazer”. A vista e as cores na passagem de Praia Grande [atual Niterói] absorve toda a atenção de Darwin ao menos até o meio-dia, quando o grupo pára para almoço em “Ithacaia”, aldeia cercada por choças ocupadas por negros escravos. Ainda sobre o Brasil, ele escreve:
“Se ao que a Natureza concedeu ao Brasil, o homem adicionasse seus justos e prósperos esforços, que país seus habitantes não poderiam vangloriar. Mas onde a maior parte resta em estado de escravidão e onde este sistema é mantido por um impedimento completo da educação, a força motriz das ações humanas, o que se pode esperar senão que o todo seja poluído pela sua parte”. — Diário do Beagle, 17 de março de 1832



Em novembro de 1832, já na cidade de Montevideu, Darwin recebe uma cópia do segundo volume dos Princípios da Geologia de Lyell. A certos intervalos, o Beagle retornava a portos em que a correspondência poderia ser recebida e onde as anotações do diários de Darwin e suas coleções eram mandadas de volta para Inglaterra.
Na Chegada a Terra do fogo, Darwin fica perplexo com o estado selvagem dos nativos, em grande contraste com o comportamento dos três fuegianos civilizado (um deles morreu na Inglaterra), sobre isto ele descreve o primeiro encontro com os nativos fueguianos como sendo "sem exceção o espetaculo mais interessante e curioso que ele já tinha visto: eu não podia acreditar quão grande era a diferença entre os selvagens e os homens civilizados: era maior do que de um animal selvagem e um doméstico, visto que o homem tem um grande poder de melhoramento."
Durante a viagem do Beagle, Darwin fez escavações na Patagônia, onde encontrou fósseis de mamíferos já extintos. Darwin descobriu o fóssil de um animal gigantesco, com a organização esquelética muito semelhante à dos tatus que hoje habitam o continente sul-americano. Junho de 1834, depois de dois anos e meio de viagem, o Beagle chega finalmente ao oceano Pacífico, contornando o estreito de Magalhães.
Em janeiro de 1835 Darwin assiste a erupção do vulcão Osorno, no Chile. Em 20 de fevereiro, presencia um Terremoto. A partir de Valparaíso, Darwin fez uma expedição aos Andes, chegou a mais de 1.000 metros de altitude e encontrou fósseis de conchas. Foi nesse momento que ele pôde perceber que as adaptações aconteciam de acordo com cada ambiente: selvas brasileiras, pampas argentinos e os Andes. A essa altura, Darwin já estava questionando a imutabilidade das espécies, o conceito estático da Terra.
A expedição chega a Galápagos em 15 de Setembro de 1835. Esta foi a etapa mais importante da viagem de Darwin no HMS Beagle. Vou fazer o próximo post só dedicado a Galápagos e as conclusões de Darwin para formular a teoria da seleção natural. A trilogia continua na próxima semana...



Fontes consultadas
http://www.cienciaartemagia.ufba.br/darwinnabahia/aviagemdobeagle.html
http://www.darwin2009.cienciaviva.pt/darwin/Beagle/locais/
http://www.slideshare.net/ladonordeste/charles-darwin-1044346
http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Viagem_do_Beagle
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/darwin_no_brasil_-_encanto_com_a_natureza_e_choque_com_a_escravidao.html
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao15.ph

Se você lê bem em Inglês, poderá ler o diário de bordo do Beagle em
http://darwin-online.org.uk/content/frameset?viewtype=text&itemID=EHBeagleDiary&pageseq=1

Um comentário: